Justo C. Anderson fez uma importante afirmação do princípio do Senhorio de Jesus Cristo: “O futuro da denominação batista dependerá em grande parte da sua fidelidade a este princípio”. O senhorio de Jesus Cristo na vida cristã do indivíduo e na vida da igreja é determinante para a nossa continuidade como igreja. Nós vivemos numa sociedade na qual, usando a linguagem de Paulo, “há muitos deuses, e muitos senhores”, exigindo a lealdade de cada um de nós e da igreja.
A quem devemos obediência? Em que assuntos devemos lealdade ao Estado, já que a própria Bíblia nos diz que “todo homem esteja sujeito às autoridades superiores”. Se partirmos do princípio de que o Senhorio de Cristo é ponto final para decidir qualquer assunto, nossos atos alcançarão o resultado desejado por ele.
Parafraseando Agostinho:
“submeta-se a Cristo e faça o que você quiser”.
O princípio do Senhorio de Jesus Cristo nos leva a responder a vários desafios. O primeiro deles é o totalitarismo político. Desde o domínio romano até o século XX, os cristãos experimentaram o domínio do Estado Totalitário exigindo-lhes a fidelidade que só é devida a Cristo. No Império Romano, os cristãos não sucumbiram à ordem de abandonar a fé pela submissão às exigências religiosas e políticas dos imperadores, mas os crentes pagaram com a própria vida ao pronunciarem e viverem a confissão de que “Jesus Cristo é o Senhor”. A definição radical pelo Senhorio de Cristo acompanhou os cristãos durante a Idade Média frente aos poderes políticos e eclesiásticos.
A história da igreja no século XX também produziu mártires que, sob o domínio do nazifascismo e do regime comunista, não aceitaram a idolatria política das ideologias porque elas conflitavam com os ensinos de Cristo. Esses cristãos aprenderam com os apóstolos: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens”. O Senhorio de Jesus Cristo continua sendo a mola mestra na vida de cristãos em países islâmicos. Diante da oposição de familiares anticristãos e do Estado religioso opressor, muitos cristãos se rendem ao Senhorio de Cristo.
Nós, Batistas do Brasil e do ocidente, temos a proteção das leis que nos garantem a liberdade de culto e pregação do evangelho. Entretanto, há muitos “deuses” e “senhores” que tentam afastar-nos do Senhorio de Jesus Cristo.
Por exemplo, há o senhor “eu” que exige plena submissão às suas vontades e caprichos conhecidos como obras da carne, que chamo de catálogo sinistro tirado de Gálatas 5.19-21, dividido em quatro blocos:
1) Sexo: imoralidade sexual, a impureza e as ações indecentes;
2) Religião: idolatria e feitiçaria;
3) Relacionamento interpessoal e social: inimizades, brigas, ciumeiras (ou ataques de ciúme), os acessos de raiva, a ambição egoísta, desunião, divisões (aquelas que põem irmão contra irmão nas igrejas), invejas;
4) Alimentação: bebedeiras e farras. Algumas versões dizem glutonaria ou orgias, tradução melhor para o termo usado no grego, komos, com o sentido de “excesso sensual no prazer físico e sexual que é ofensivo a Deus a aos homens igualmente”.
Ainda o mundo, ou mundanismo, com toda variedade de deuses como o amor ao dinheiro que, segundo Paulo, é a “raiz de todos os males” e que Jesus denominou de Mamom, palavra que personifica o coração nas riquezas. O Senhor Jesus deixou claro que “um escravo não pode servir a dois donos ao mesmo tempo, pois vai rejeitar um e preferir o outro; será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e também servir ao dinheiro”.
Qual dos senhores ou deuses tem nossa obediência? Além da adoração a Mamom, que gera a sonegação de impostos (e dízimo, inclusive), a corrupção financeira em todos os segmentos sociais e governamentais e o consumismo desenfreado. Ainda há a deusa do sexo, a mais difundida e adorada sob várias divindades na forma de erotismo publicitário e televisivo, pornografia, homossexualismo, adultério e prostituição. Todos esses e mais outros soberanos, que não foram mencionados, fazem parte do esquema deste mundo, o qual não merece o nosso amor, pois “se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele”.
O princípio do Senhorio de Jesus Cristo, portanto, nos leva a muitos desafios. Obedecer a quem em primeiro lugar? Até que ponto o cristão deve obediência à autoridade? Em que ponto do viver diário estamos obedecendo à nossa carne e a “senhores” deste mundo e a “deuses” e não a Jesus Cristo?
Talvez alguém pense que Princípios Batistas sejam afirmações filosóficas e teóricas que não têm nada a ver com nosso cotidiano cristão. Puro engano. No interessante texto elaborado, em 1964, pela Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, sob o tópico Cristo como Senhor, lemos o seguinte: “A fonte suprema da autoridade cristã é o Senhor Jesus Cristo. Sua soberania emana da eterna divindade e poder – como o unigênito Filho de Deus Supremo – de sua regência vicária e ressurreição vitoriosa. Sua autoridade é a expressão de amor justo, sabedoria infinita e santidade divina, e se aplica à totalidade da vida. Dela procedem a integridade do propósito cristão, o poder da dedicação cristã, a motivação da lealdade cristã. Ela exige a obediência aos mandamentos de Cristo, dedicação ao seu serviço, fidelidade ao seu reino e a máxima devoção à sua pessoa, como Senhor vivo”.